Consumismo e as cumbucas pós-modernas



Reproduzo, com a devida autorização do autor, Mustafa Ibn Ali Kanso, uma reflexão a respeito do consumismo que vivemos hoje em dia. Uma vez que o Rico Dinheiro trata de educação financeira, nada mais adequado do que ajudarmos o leitor a pensar "fora da caixa" nesses tempos de consumismo exarcerbado.

Os objetivos deste Post são:

  • Apresentar, rapidamente, Mustafa Ibn Ali Kanso;
  • Induzir a uma reflexão sobre do que é necessário e o que é desejo;
  • Induzir a uma reflexão sobre a criação de "necessidades" pelas ações de marketing;
  • Induzir a uma reflexão sobre o "ter" em detrimento do "ser".

Mustafa Ibn Ali Kanso


Mustafá Ali Kanso é um escritor brasileiro de Realismo fantástico além de professor, engenheiro químico, empresário da mídia educacional e divulgador científico em programas culturais da TV.

Harmonizando sua carreira científica com a de escritor tem publicado desde 2004 textos literários e de divulgação científica destacando-se a coluna "Hipercrônicas" no portal eletrônico Hypescience.

Foi premiado em 2004 com o primeiro lugar pelo conto "Propriedade Intelectual" e o sexto lugar pelo conto "A Teoria" (Singularis Verita) no II Concurso Nacional de Contos promovido pela revista Scarium.

Mas informações sobre o autor podem ser obtidas na Wikipedia, no site do autor e no site HypeScience.

Os grifos do texto são do próprio autor.


Consumismo e as cumbucas pós-modernas


Em janeiro de 2011 adquiri por um preço módico um desses “smartphones” queridinhos da moda numa promoção realizada por uma operadora.

Muitos colegas de trabalho, clientes, alunos e até familiares elogiaram minha aquisição, citando todas as inegáveis vantagens dessa “maravilha da tecnologia”:

  • Além de telefone é máquina fotográfica;
  • É também computador,
  • Possibilita o acesso à internet,
  • Possui GPS integrado,
  • Pode carregar e-books, ler e enviar e-mails,
  • Etc., etc., etc.

Ficando cada vez mais surpreso com minha inteligência e meu senso de oportunidade por tê-lo comprado. (Hoje vejo que a inteligência e o senso de oportunidade foi de quem me vendeu o aparelho).

De fato fiquei muito feliz com a compra naquela ocasião.

Fui órfão dos “Pocket-PCs” por muito tempo e quando pude aliar telefone ao computador numa única gerigonça portátil, fácil de carregar pelos aeroportos da vida, tornando-se tábuas de salvação em intermináveis horas de espera em “check ins” por esse mundo afora, comecei a ter fé nos tecnólogos de plantão.

Sem perceber que eu tinha sido fisgado vivi o sonho durante um semestre.

Em agosto de 2011 o mesmo aparelho ainda figurava em minha aljava e meus antigos admiradores transformaram-se em meus inquisidores:

- Ainda com o mesmo aparelho?
- Não vai trocar?
- Já chegou o novo modelo, sabia?
- Deixa de ser pão-duro!

E assim por diante.


Eu nem cogitava trocar de aparelho.

Afinal o pobrezinho estava praticamente novo e atendia todas as minhas necessidades.

Quando manifestei essa ideia de gente comedida – que só compra coisas que realmente necessita – quase fui crucificado.

A lição do pós-modernismo é simples:

- Mantenha seu status a qualquer preço.

Afinal a imagem de pessoa “antenada” que eu havia conquistado não tinha preço!

Em verdade tinha preço, sim! – e era muito alto.

Ora, dane-se!  Afinal eu “podia” comprar um aparelho novo!  Eu trabalhava para isso. Para me proporcional esse conforto.

O fato de que o antigo continuasse atendendo minhas necessidades era apenas um detalhe. Eu poderia vendê-lo, doá-lo, etc.

- Afinal, o novo modelo era mais bonitinho e tinha uma tela 0,25 polegadas maior!

Com esses e outros pensamentos, confesso que quase sucumbi à tentação – mesmo percebendo a sutil armadilha do consumismo:

- Tentado fazer com que eu preenchesse com coisas materiais um vazio que não poderia nunca ser preenchido com coisas materiais.
Eu sabia que o telefone era apenas a ponta do iceberg. Teria o carro zero, a moto, o trailer, o barco, a casa de praia, a casa de campo, a casa da montanha, a casa da serra, a casa do bosque…

De repente entendi por que meu vizinho trabalhava muito, fazendo o que não gostava, para comprar tantas coisas que não precisava:

- Ele queria muito impressionar um monte de pessoas que não conhecia!

Acho que devido a esse exemplo de obsessão e infelicidade que grassava ao meu lado eu não me conformava com a ideia:

Por que estourar meu cartão de crédito para comprar coisas que eu não preciso?

Sem tantas contas para pagar eu posso trabalhar menos. Ter mais tempo para descansar, curtir a família e os amigos.

Ser um pouco mais livre e  ter um pouco mais de vida, afinal!

Para concluir,

Uma releitura de uma das fábulas de Louis Pauwels,  de como as antigas tribos caçavam os macacos que compunham parte de seu cardápio:

Eles amarravam nos coqueiros preferidos desses primatas algumas cumbucas, todas cheias de pistaches.

No entanto, a abertura de cada cumbuca era estreita o suficiente para permitir a passagem de apenas uma das mãos – e esta – sempre estando aberta.

Uma vez que o animalzinho fechasse sua mão sobre a prenda, o punho assim cerrado ficaria preso no estrangulamento da cumbuca, aprisionando, por sua vez, o próprio animal.

Evidentemente se o animal abrisse a mão, ele escaparia facilmente. No entanto, seu instinto não o permitia.

E assim, ficava o infeliz aprisionado à cumbuca, gritando, forçando suas amarras, sem abrir sua mão e, portanto, sem conseguir escapar de seu destino.

Por vezes eu flagro boa parte da humanidade nessa mesma situação:

- Sendo prisioneira de seus pertences.

E nas palavras de Pauwels:

“- É necessário apalpar, examinar os frutos-armadilhas, depois afastarmo-nos com rapidez. Satisfeita a curiosidade, convém dirigir imediatamente a nossa atenção para o mundo em que estamos, recuperar a nossa liberdade e a nossa lucidez, retomar o caminho sobre a Terra dos Homens da qual fazemos parte.”


Conclusão


A necessidade de sermos aceito em derminados grupos faz com que passemos a consumir determinados objetos que nem sempre nos satisfazem e preenchem o vazio que sentimos.

Os profissionais do Marketing sabem e se aproveitam disso para estimular o consumo.

Não se trata da dicotomia do bom ou ruim. Mas nos conscientizarmos das nossas escolhas e de suas consequencias. É preciso saber distinguir se agimos por convicção ou pela necessidade de sermos aceito em determinados grupos.

Num mundo de recursos finitos, é preciso escolher com sabedoria quanto de nossa riqueza consumiremos com o consumo desenfreado e quanto investiremos em investimentos que nos garantam qualidade de vida e liberdade financeira (a redundância foi proposital).

É preciso buscar um equilíbrio entre o prazer imediato do consumo e a segurança financeira no futuro.

Pense nisso!

Um grande abraço e até a próxima!

K.R.

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